Artigos, Constelação Familiar, Terapias Integrativas

Herança Ancestral: Somos Raiz antes de Sermos Fruto

Ao longo de muito tempo, sigo pesquisando sobre meus antepassados como uma forma de conhecer e compreender a mim mesma. Vejo a importância histórica dos caminhos deixados por nossos ancestrais como uma ferramenta para compreendermos nosso presente – padrões emocionais, de comportamento e de pensamento incluem-se aqui – assim como estarmos mais conscientes de nós e do nosso real propósito para irmos em direção ao futuro com nossas mochilas e nossas costas mais leves, nossas mentes mais sábias e claras, nossas rotas mais fluídas.

Essa jornada nos traz uma visão muito mais ampla sobre quem somos a partir do que herdamos para, assim, podermos escolher ser o que almejamos a partir do que acreditamos – discernimento este tão necessário para nos tornarmos aquele por quem temos esperado, ao invés de sermos o resultado das expectativas, projeções e transferências de outros, o que pode nos gerar um sentimento de grande vazio existencial.

Esse mapa ancestral contém tesouros belos e ricos em essência: aqueles representados pelos nossos antepassados que nos deixaram conhecimentos importantes, dons, talentos, medicinas, visões diferentes de mundo, sábios saberes – sabedorias repletas de verdades e valores essenciais que, no agora, são alimento e nutrição para nossa alma e nosso coração.

Da mesma forma, esse mapa contém tesouros que chamo de “ouro velho”: aqueles que muitas vezes ficaram estagnados e que perderam seu valor ao longo do tempo, mas não a sua importância porque são capazes de atravessar inúmeras gerações através do nosso DNA, uma vez que nossas células guardam tanta memória quanto um pequeno chip. Esses tesouros velhos representam tudo o que foi negado, escondido, reprimido e excluído. Aqui, geralmente residem as dores, os traumas e os sofrimentos vividos pelos nossos antepassados.

Portanto, ao investigarmos nossa árvore ancestral é importante termos consciência das raízes que já foram iluminadas – nos fortalecemos através delas – e também das que ainda estão na escuridão, que podem conter partes nossas que precisam vir à luz da consciência, residindo em áreas do nosso inconsciente ou subconsciente. A importância dessas raízes que estão obscurecidas é tão grande quanto às que já estão iluminadas, porque se permanecemos ignorantes diante do que foi reprimido podemos simplesmente estar perpetuando um padrão e, com isso, perder a força que nos impulsionaria para o progresso.

Complementando essa reflexão, transcrevo um texto que traz alguns esclarecimentos sobre como os fios e tramas desse tecido universal ancestral pode influenciar diretamente nossas vidas, na maioria das vezes sem que tenhamos consciência. Que essas reflexões possam ajudar você a conhecer e compreender suas raízes, fortalecendo-se através das suas luzes e das suas sombras, para assim estar mais consciente a cada dia e poder gerar sementes, frutos e flores num amanhã glorioso. Quanto mais enraizada for uma árvore, maiores serão os seus galhos em direção ao sol. Namaste!

A HERANÇA EMOCIONAL DOS NOSSOS ANTEPASSADOS

“Este texto é um estímulo para levantarmos com entusiasmo a nossa árvore genealógica.

A herança emocional é tão decisiva quanto intransigente e impositora. Estamos enganados quando pensamos que a nossa história começou quando emitimos o nosso primeiro choro. Pensar dessa forma é um erro porque, assim como somos o fruto da união do óvulo e do esperma, também somos um produto dos desejos, fantasias, medos e toda uma constelação de emoções e percepções que se misturaram para dar origem a uma nova vida.

Atualmente falamos muito sobre o conceito de “história familiar”. Quando uma pessoa nasce, ela começa a escrever uma história com suas ações. Se observarmos as histórias de cada membro de uma família, encontraremos semelhanças essenciais e objetivos comuns. Parece que cada indivíduo é um capítulo de uma história maior, que está sendo escrita ao longo de diferentes gerações.

Esta situação foi muito bem retratada no livro “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez, que mostra como o mesmo medo é repetido através de diferentes gerações até que se torna realidade e termina com toda uma linhagem. O que herdamos das gerações anteriores contém também os pesadelos, os traumas e as experiências mal resolvidas.

A HERANÇA DE NOSSOS ANTEPASSADOS QUE ATRAVESSA GERAÇÕES

Esse processo de transmissão entre as gerações é algo inconsciente. Normalmente são situações ocultas ou confusas que causam vergonha ou medo. Os descendentes de alguém que sofreu um trauma não tratado suportam o peso dessa falta de resolução. Eles sentem ou pressentem que existe “algo estranho” que gravita ao seu redor como um peso, mas que não conseguem definir o que é.

Por exemplo, uma avó que foi abusada sexualmente transmite os efeitos do seu trauma, mas não o seu conteúdo. Talvez até mesmo seus filhos, netos e bisnetos sintam uma certa intolerância em relação à sexualidade, ou uma desconfiança visceral das pessoas do sexo oposto, ou uma sensação de desesperança que não conseguem explicar.

Essa herança emocional também pode se manifestar como uma doença. O psicanalista francês Françoise Dolto disse: “o que é calado na primeira geração, a segunda carrega no corpo”. Assim como existe um “inconsciente coletivo“, também existe um “inconsciente familiar”.

Nesse inconsciente estão guardadas todas as experiências silenciadas, que estão escondidas porque são um tabu: suicídios, abortos, doenças mentais, homicídios, perdas, abusos, etc. O trauma tende a se repetir na próxima geração, até encontrar uma maneira de tornar-se consciente e ser resolvido.

Esses desconfortos físicos ou emocionais que parecem não ter explicação podem ser “uma chamada” para que tomemos consciência desses segredos silenciados ou daquelas verdades escondidas, que provavelmente não estão na nossa própria vida, mas na vida de algum dos nossos antepassados.

CAMINHO PARA A COMPREENSÃO DA HERANÇA EMOCIONAL

É natural que diante de experiências traumáticas as pessoas reajam tentando esquecer. Talvez a lembrança seja muito dolorosa e elas acreditam que não serão capazes de suportá-la e transcendê-la. Ou talvez a situação comprometa a sua dignidade, como no caso de abuso sexual, em que apesar de ser uma vítima, a pessoa se sente constrangida e envergonhada. Ou simplesmente querem evitar o julgamento dos outros. Por isso, o fato é enterrado e a melhor solução é não falar sobre assunto.

Este tipo de esquecimento é muito superficial. Na verdade o tema não está esquecido, a lembrança é reprimida. Tudo que reprimimos se manifesta de uma outra forma. É mais seguro quando volta através da repetição.

Isto significa, por exemplo, que uma família que tenha vivenciado o suicídio de um dos seus membros provavelmente vai experimentá-lo novamente com outra pessoa, em uma nova geração. Se a situação não foi abordada e resolvida, ficará flutuando como um fantasma que voltará a se manifestar mais cedo ou mais tarde. O mesmo se aplica a todos os tipos de trauma.

Cada um de nós tem muito a aprender com os seus antepassados. A herança que recebemos é muito mais ampla do que supomos. Nela poderemos encontrar a causa de muitos de nossos sofrimentos.

Qual a herança positiva e negativa dos seus antepassados? O que fazer com o que foi herdado? Devemos perpetuar, repetir, salvar, negar, encobrir as feridas destes eventos transformados em segredos, ou entender, aprender e transcender?

Todas as informações que pudermos coletar sobre os nossos antepassados serão o melhor legado que podemos ter e deixar para nossos descendentes. Saber de onde viemos, quem são essas pessoas que não conhecemos, mas que estão na raiz de quem somos, é um caminho fascinante que só nos trará benefícios. Isto nos ajudará a dar um passo importante para chegar a uma compreensão mais profunda de qual é o nosso verdadeiro papel no mundo.”

Fonte Complementar: Texto de Edith Cassal

Deixe um comentário com amor!

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.